Mãe, espero que
chegues a ler isto, eu amo-te muito, estás sempre lá quando eu mais preciso,
ouves-me mesmo quando menos mereço que me ouças. És uma mulher muito forte,
sincera e querida, e por muito que não pareças, és sensível e
entristesses depressa. Quero mesmo que saibas isto que te disse e aquilo que te
vou dizer a seguir. Desde o dia em que vi aquele homem que vive connosco que
não gosto dele, tu és muito bondosa e perdoaste-o logo a seguir das
coisas terríveis que ele te fez e disse. Eu nunca o cheguei a perdoar
por isso. Desde o momento em que ele te começou a chamar nomes, desde o dia em
que quase me obrigou a sentar-me no joelho dele e ver-te chorar
no chão agarrada a uma maçaneta numa gaveta da cozinha do nosso
apartamento, desde o momento em que ele te disse: "Queres que a tua filha
te veja assim nesses modos?" que o passei a odiar. Nessa altura ainda
estava meia traumatizada pelo divorcio com o pai, por muito que não parecesse,
e nem eu mesmo notava que me tinha tornado numa rapariga quase sem pensamentos,
não sabia ideia do que fazia. Estava sempre meia lunática e ele só veio
piorar as coisas ainda mais. Á pouco tempo, alias o ano passado, houve
aquela discussão entre mim e ele, por aquilo que eu escrevi, lembras-te? Eu
escrevi no meu diário que o odiava, que nunca quereria que ele fosse meu pai,
que ele me metia nojo de cada vez que falava e de cada vez que dava as
suas estúpidas opiniões, que só me apetecia enfiar-lhe uma faca pelo
cu acima, que ele era um gordo chato, estúpido e que tinha gosto em
arranjar problemas as pessoas e de implicar com elas. Eu escrevi isto tudo no
meu diário pessoal e ele sem nenhuma vergonha na cara, enquanto nós estávamos
na escola, ele abriu o meu diário sem autorização e leu-o, sem mais nem
menos! E depois ainda teve a puta da lata de me vir encher a cabeça. Nesse dia
baldei-me a aula de francês com a bá e a laura e queimei o meu diário
todo. Lembras-te de que lhe escrevi uma carta de desculpas? Bem, eu digo-te uma
coisa, cada palavra de perdão que eu escrevi á força, era pura e simplesmente
FALSA! Eu odeio-o e não o suporto! Lembras-te quando eu sai de casa? Tu não
percebeste porque, mesmo depois de eu te dizer que era por causa dele. Eu não o
queria fazer, não queria fazer-te sofrer, só queria que tu percebesses que eu o
odeio. E depois voltei para casa, e mesmo assim tu continuas-te com ele, mesmo
depois de tudo! Continuo em silêncio, não te digo que o odeio, e não descarrego
o meu ódio por cima dele porque não te quero arranjar problemas! Só
finjo gostar dele para que tu sejas feliz, eu tento faze-lo, alias eu faço-o o
tempo todo, mas tu nem sequer reparas nos olhares de nojo que eu lhe mando. Ele
não te merece. Ele é má pessoa, e consegue que tu acredites que ele é
precisamente o contrário. Mas eu digo-te que não é. Por favor, livra-te dele.
Ele é um monstro tanto por fora como por dentro. E eu ODEIO-O!
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